Há evidências de que, neurologicamente, o sistema do orgasmo está intrinsecamente ligado ao sistema da dor; assim, a sensação de orgasmo pode ser considerada, paradoxalmente, uma forma de “sofrimento desejável”.

Não podemos deixar de citar, como ilustração, a intensa careta facial expressa durante o orgasmo(prazer), que é bastante semelhante à de pessoas com dor extrema.

Considere os seguintes pontos que abordam a ligação entre orgasmo e dor:
1. O orgasmo atenua a dor sem afetar a sensação tátil;
2. Por outro lado, sabe-se que a dor bloqueia o orgasmo;
3. O orgasmo ocorre com a ativação simultânea dos sistemas simpático e parassimpático, o que geralmente não acontece de forma simultânea (ou um, ou outro se ativa);
4. No caso de trauma na medula espinhal, a interrupção seletiva da via da dor, mas não da via tátil, bloqueia o orgasmo e a dor, mantendo a tátil no genital;
5. As regiões cerebrais que classicamente respondem a dor também são ativados seletivamente durante o orgasmo.

Coçar e espirrar representam uma forma de dor (ou seja, irritação) possivelmente semelhante ao orgasmo. Talvez a sensação de prazer de coçar represente um orgasmo de baixa intensidade. Da mesma forma, um espirro pode representar um orgasmo de maior intensidade no sistema respiratório.

Algumas mulheres que têm ataques de espirros repetitivos alegam ter orgasmos múltiplos regularmente. Assim, a estimulação sensorial intensa pode ser percebida como intensamente aprazível, desde que uma certa inibição ou parada de estimulação quase que simultânea impeça para a progressão descontrolada das sensações. Se esse descontrole ocorre, a estimulação é percebida como dolorosa.

Assim, o orgasmo ocorre no ponto em que a excitação excede minimamente a própria capacidade que possuímos de inibi-lo. E após o orgasmo é desencadeada uma inibição de maior intensidade, reduzindo assim a intensidade da excitação e resolvendo a sensação de prazer que foi sentida.

Será o orgasmo uma “Doce Agonia”?

Resumido de:
Orgasm utilizes the pain pathway: is orgasm “nonaversive pain”?
Sexual Medicine Reviews, Volume 11, Issue 4, October 2023, Pages 291–295, https://doi.org/10.1093/sxmrev/qead037